sábado, 10 de abril de 2010

Educação em Roraima: estranheza, contradição e hipocrisia

Deu no Jornal: Denúncias apontam irregularidades em reforma de escola estadual; Falta de professor revolta pais e alunos; Ventilador cai na cabeça de aluna; Falta material e professor em escolas estaduais; Pais reclamam de transporte escolar; Estudantes do interior sentam no chão por falta de carteiras; Alunos voltam às aulas sem fardamentos; Escolas recebem alunos sem carteiras; Alunos estudam em escolas precárias; Merenda escolar: alunos reclamam de suco estragado na escola; Telhado da quadra esportiva ameaça desabar; (...).

Estranho, muito estranho! Não é essa a Educação das propagandas do governo, das carinhas felizes embaladas pelas ilusões de que em Roraima o ensino público vai bem, que há gente reclamando de barriga cheia, gente incoerente, gente intransigente.

Não é essa a Educação dos sorrisos pueris, do canto que entoa “Acelera, Roraima!”, do aluno que senta no chão, da merenda que a criança só come porque tem fome, do suor que escorre pelas faces sofridas em meio ao calor infernal, do vento que alivia e ao mesmo tempo aterroriza ameaçando cair sobre a cabeça... Não é essa a realidade que aflige a terra de Macunaima.

Contradição, muita contradição! Afinal, a Educação é a que se prega ou a que se vê? É a que se oferece nos discursos e propagandas milagrosas ou a que é tratada com descaso e desvios de recursos velados em gabinetes? É a que nada falta e tudo tem ou a que nada tem e tudo falta? É a das personagens com sorriso artificial nas propagandas “Acelera, Roraima!” ou a da realidade que entristece a criança que mais parece ser educada por esmolas e não por recursos a que tem direito?

Hipocrisia, quanta hipocrisia! Hipócrita é aquele que vocifera nos púlpitos e tribunas contra os professores, por alegar que a sua luta é somente por salário. Hipócrita é o professor que diz que está tudo bem porque lhe basta o salário. É aquele que não enxerga e ilude os seus ouvidos porque lhe convém.

É muito mais cômodo julgar a luta de uma classe dentro de gabinetes, criticar um movimento quando se está acomodado no sofá da sala, reprovar o protesto de trabalhadores quando não se está no lugar deles, chamar professores de vagabundos quando não se reconhece a sua importância para a sociedade... E assim a sociedade continua sem educação de qualidade, educação que instrui, que liberta, braço forte de um Estado desenvolvido. E assim o povo continua sujeito ao engodo, objeto de manipulação daqueles que fazem de sua função a plena prioridade de trabalhar segundo os seus interesses, daqueles que lesgilam em causa própria.

Parabéns a todas as classes trabalhadoras, a cada trabalhador que luta pela sua valorização, por condições dignas de trabalho, parabéns aos que se libertaram do comodismo que vicia, que levantam a bandeira do desenvolvimento desse Estado, mais justo e realmente solidário, mesmo enfrentando quem tem em mãos a oportunidade de fazer Roraima avançar, não nas propagandas fora da realidade, mas na vida de cada cidadão roraimense.

* Artigo de minha autoria publicado no Jornal Folha de Boa Vista