Recentemente, uma polêmica dividiu opiniões sobre a distribuição de um material produzido pelo MEC às escolas, que tratava da homossexualidade. Conhecido como “kit-gay”, o material recebeu duras críticas de diversos segmentos sociais, principalmente de evangélicos e conservadores. Depois de reprovado, ficou a ideia de que falar sobre a sexualidade é dever da família, a quem compete quando e como tratar desse assunto tão delicado. Mas será mesmo que os pais sabem lidar com sexualidade dos filhos?
Na verdade, dizer que educação sexual é papel da família fica apenas no papel. Ainda ontem, falar de sexo com os pais era tabu, hoje não mais? Estranha-me agora que eles queiram assumir essa responsabilidade. O preconceito contra os homossexuais é um dos mais fortes da nossa sociedade e a família é uma das que mais contribui para a produção e reprodução desse preconceito, então como podemos querer que nossos filhos cresçam com uma educação pautada no respeito à diversidade, sem discriminação e homofobia?
Desde cedo, é comum os filhos aprender a linguagem do preconceito que, conscientemente ou inconscientemente, gera atitudes nem sempre favoráveis a uma (in)formação livre de discriminação. Quando a afetividade dos filhos envolve a homossexualidade, o problema se amplia. Em geral, nenhum pai quer um filho “gay” ou “lésbica”, o que torna a família um nicho da reprodução de preconceitos que envolvem a sexualidade. Para isso, os discursos vão de Adão e Eva à procriação humana, valendo-se de valores culturais, sociais e históricos, sujeitos de convenções sociais instituídas e dominantes.
Com o conflito, mesmo que pais e filhos tentem conviver, o mal-estar dentro de casa acaba ficando pior que o fora dela. Então, tendem a ter ações e atitudes que geram graves conseqüências, principalmente psicológicas, pois nem todos conseguem superar a falta de apoio da família. Sem generalizar, ainda que os filhos não sejam vítimas da violência física ou psicológica, é comum ver na família pais e filhos tomados pela angústia de não poder falar, compartilhar seus anseios e sentimentos, sobre o que se é como homem ou como mulher sem estereótipos, por causa dos preconceitos reproduzidos lar afora.
Penso que a escola deve sim, inserir educação sexual em seu currículo. Não de forma impositiva, como pareceu o “kit-gay”, mas através de um processo que envolva também a família. Que os pais saibam o que os filhos estão aprendendo e que participem também dessa educação. É na escola que os filhos interagem, conhecem os outros e se conhecem. Não há como fugir das trocas sociais que naturalmente acontecem no contexto escolar. Todas as informações recebidas pelo aluno são trazidas para dentro da escola, a sexualidade se manifesta no comportamento deles, na escola ou fora dela. É função da escola combater o preconceito e rever conceitos distorcidos.
Enquanto isso ficar apenas no discurso, a falta de informação e o preconceito vai continuar. Quem os pais eduquem, mas também que a escola compreenda a sua importância nesse processo. Acima de tudo, que trabalhem nas futuras gerações a valorização humana, que tolera e respeita as diferenças, despidos de “verdades absolutas” e livres daquilo que hoje, infelizmente, estamos presos.
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