domingo, 13 de dezembro de 2009

Mundo virtual - Para refletir


Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.

Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga,uma  salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime  é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha  atrás de mim:

-Tio, dá um trocado?

- Não tenho, menino.

- Só uma moedinha para comprar um pão.

- Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.

- Tio, pede para colocar margarina e queijo também?

Percebo que o menino tinha  ficado ali.

- OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?

Chega a minha refeição e junto com ela o meu  constrangimento..

Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero  que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.

- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele.

Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:

- Tio, o que está fazendo?

- Estou lendo uns e-mails.

- O que são e-mails?

- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.

Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:

- É como se fosse uma carta, só que via Internet.

- Tio, você tem Internet?

- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.

- O que é Internet, tio?

- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.

- E o que é virtual, tio?

Resolvo dar uma  explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e  vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.

- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer.

Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse..

- Legal isso. Gostei!

- Mocinho, você entendeu o que é virtual?

- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.

- Você tem computador?

- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo.

Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tio?

Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado.

Esperei que o menino terminasse de literalmente  'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na  vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'.

Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não  percebemos!
-Autor desconhecido

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Brasil é lider mundial na produção de spam


Segundo o McAfee e Trend Labs, o Brasil é o líder mundial em envio de spams. Nem mesmo os EUA com seu grande número de usuários da Internet conseguiu liderar o ranking. A maior parte dessas mensagens indesejadas, oferecem remédios como o viagra.


 




Em uma lista divulgada pela divisão de segurança da Cisco nesta semana, o Brasil desbancou os EUA e apareceu como líder entre os países propagadores de spam (mensagens indesejadas de e-mail). O país foi responsável pelo envio de 7,7 trilhões de spams no ano encerrado em novembro, contra 6,6 trilhões dos EUA (no ranking anterior, os Estados Unidos somavam 8,3 trilhões).



O Brasil, no entanto, não é o único país que apresentou crescimento na quantidade de spams enviados. A Índia, que segundo a publicação produzia relativamente pouco spam em comparação ao tamanho de sua economia, foi responsável no ano concluído em novembro por 3,6 trilhões de mensagens. O número representa mais que o dobro do mesmo período do ano anterior, segundo a Cisco.

domingo, 29 de novembro de 2009

Escola e Homofobia



Um dos melhores artigos que já li sobre como trabalhar a homossexualidade na escola, da revista Pátio Pedagógica. Alías, essa revista é excelente e quem trabalha na área de educação não deve deixar de lê-la.

É fundamental trabalhar para que a escola não reproduza ou amplie situações de desamparo e hostilidade a que muitas lébicas, gays, bissexuais ou transexuais estão submetidos em seu ambiente familiar, em sua comunidade e em outros espaços.


A homofobia na escola é um problema real. Seu enfrentamento requer estratégias específicas voltadas a garantir tanto o avanço da agenda dos direitos sexuais quanto o reconhecimento da diversidade sexual e da pluralidade das expressões de gênero. Nesse espaço, é preciso confrontar crenças e valores que alimentam os preconceitos heteroxissistas e a hostilidade homofóbica, pois pedagogias que reiteram as lógicas da "heterossexualização compulsória" prejudicam a formação de todas as pessoas.

Emprego a noção de diversidade sexual para me reportar às temáticas diferentes à população Lébiscas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Trangêneros (LGBT) e às dissidências em relação às "normas de gênero". A categoria LGBT não é usada aqui a partir de pressupostos essencialistas ou fomentadores de classificações ou exclusões. Eu a considero uma categoria política, dotada de dinâmicas e tensões, passível de contínuas reconfigurações.

A homofobia costuma ser vista como um conjunto de emoções negativas (aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo) em relação a homossexuais ou mais concretamente, a lésbicas, gays, bissexuais, travestis ou transexuais. Na verdade, a homofobia transcende sentimentos individuais: trata-se de preconceito, discriminação e violência contra pessoas cuja orientação sexual (orientação do desejo sexual), identidades ou expressões de gênero (identificação dos sujeitos com configurações de masculinidade ou de feminilidade) não se conformam com a heteronormatividade, ou seja, valores, normas e dispositivos por meio dos quais a heterossexualidade é instituída como a única forma legítima e natural de expressão identitária e sexual. Nesse sentido, as práticas sexuais não reprodutivas são vistas como desvio, crime, aberração, doença, perversão, imoralidade ou pecado.


Espaço crucial na construção de sujeitos e subjetividades sintonizados com a heteronormatividade, a escola desempenha um papel central na produção e na reprodução da homofobia. Nela, a homofobia é consentida e ensinada (Louro, 1999) em rotinas de constantes ofensas, constrangimentos, ameaças, intimidação, moléstias, humilhações, tormentas, marginalização e exclusão.

Segundo pesquisa da Unesco (2004), cerca de 60% dos professores brasileiros consideram inadmissível uma pessoa ter relações homossexuais. mais de 21%¨não gostaria de ter vizinhos homossexuais. Outra pesquisa constatou um alto percentual de docentes que afirmam não saber abordar a homossexualidade nas aulas (quase 48% em Vitória) e que consideram a homossexualidade uma doença (mais de 20% em Manaus e Fortaleza). Entre os pais, 60% não desejariam que seus filhos tivesses colegas homossexuais. Entre os estudantes, muitos não gostariam de ter colegas homossexuais (mais de 44% em Maceió e Vitória) e "bater em homossexuais" foi apontado como o exemplo menos grave de violência (Abramovay et al., 2004).

Pesquisas realizadas nas paradas LGBT de São Paulo, Rio de Janeiro, belo Horizonte, Porto Alegre, Recife  e Manaus apontam a escola como o primeiro ou segundo pior espaço de manifestação homofóbica. Em 2004, no Rio, 40,4% dos jovens entrevistados disseram ter sido discriminados na escola (Carrara e Ramos, 2005). Uma recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo indica que as pessoas LGBT são um dos principais alvos de ódio e aversão social na Brasil (Venturi, 2009).

Na escola, a homofobia incide no padrão das relações sociais entre alunos e professores; afeta o bem-estar subjetivo; dificulta o aprendizado; afeta as expectativas de alunos e professores quanto ao "sucesso" e o rendimento escolar; produz intimidação, insegurança e falta de autoconfiança; promove estigmatização, segregação e isolamento; gera desinteresse; produz ou agrava a distorção idade-série; favorece o abandono e a evasão escolar; desencadeia tendências de se evitar contextos que apresentam potencial discriminatório; reduz oportunidades e prejudica o processo de inserção no mercado de trabalho; enseja invisibilidade ou visibilidade distorcida das pessoas; conduz à maior vulnerabilidade em relação a chantagens, assédios, abusos, DSTs e AIDS; tulmutua o processo de configuração identitária e a construção do respeito de si; influencia a vida social em geral; dificulta a integração das famílias homoparentais na comunidade escolar, etc.

Revista Pátio Pedagógica, Ano XIII, Maio/Julho 2009, nº 50

sábado, 28 de novembro de 2009

Charadas e Enigmas - 2



Uma vez lancei aos leitores do Heureka um desafio de charadas e enigmas. Foi um dos tópicos mais comentado do nosso blog! Então, lanço agora um outro desafio, mas dessa vez sem as respostas! Se você souber, é só comentar e conferir com as outras depois.

1. Um homem estava apaixonado por sua namorada e resolveu pedir a sua mão em casamento:
    - Querida, eu te amo! Mas só caso contigo se você for virgem.
    - Querido, isso não importa, o que importa é que eu te amo!
    - Não! Eu te adoro, mas só casarei contigo se você for virgem.
    - Mas, querido... o que importa é que eu te amo!
    Qual é o filme?


2. O pai de Maria tem 5 filhas: Lala, Lelé, Loló, Lulú...Que filha da família está faltando nesta lista?

3. Quanto tempo leva um trem de 1km para atravessar um túnel de 1km de comprimento, se o trem viajar a        60km/h?

4. O que é maior que Deus e que os mortos comem, e se os vivos comer acabam morrendo?

5. Quatro romanos e um inglês viajavam num automóvel dirigido por uma mulher. Qual é o nome da mulher?

6. O rato roeu a roupa do rei de roma. Quantos erres tem nisso?

7. No dia anterior a ontem, Joana tinha 17 anos. No próximo ano ela completará 20. Como isso é possível?

8. Faça uma soma que dê 12 usando 3 número iguais que não seja 4.

9. Ao olhar para um retrato, um homem disse: Não tenho irmãs nem irmãos, mas o pai daquele homem (do retrato) é filho do meu pai. De quem é o retrato?

10. Quatro amigo vão ao museu e um deles entra sem pagar. O fiscal quer saber quem foi o penetra:
      - Eu não fui, diz o Benjamim.
      - Foi o Pedro, diz o Carlos.
      - Foi o Carlos, diz o Mário.
      - O Mário não tem razão, diz o Pedro.
      Só um deles mentiu. Quem não pagou?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Período do Arcadismo em Portugal


        O Arcadismo, também considerado como neoclassicismo, é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII. Arcadismo vem da palavra Arcárdia, nome de uma região montanhosa do Peloponeso, na Grécia. Essa região era considerada, no plano mitológico, como o lugar da morada dos deuses, e no plano real, Arcádia era uma região habitada por pastores, que além do pastoreio, dedicava-se à poesia.


            No início do século XVIII, ocorre a decadência do pensamento barroco e o espírito reformista envolve este século numa valorização antropocêntrica, em que o predomínio da razão faz com que o homem elimine a fé e a crença religiosa, conflituosa do período barroco. O desenvolvimento tecnológico, industrial, social e científico é impulsionado pelo saber racional, que provoca uma verdadeira revolução do pensamento moderno.


            O Arcadismo corresponde a um período de mudanças marcantes na vida européia como um todo. Essas mudanças fazem parte de um movimento cultural chamado Iluminismo. Por isso, o século XVIII é conhecido como o “séculos das luzes”. A crença no homem, o racionalismo, os aspectos políticos e econômicos propiciaram a formação de capitais e o surgimento de uma nova classe, a burguesia, que se pode afirmar como força política e econômica durante esse período.


            Nesse movimento, acreditava-se que, para tirar os homens das trevas da ignorância e das superstições, seria necessário dar-lhes ''as luzes'' da ciência, procurou-se reunir todo o conhecimento cientifico e filosófico e divulgá-lo para a maior quantidade possível de indivíduos. Nesse contexto, o filósofo francês Diderot, auxiliado por D'Alembert, organiza a grande Enciclopédia. Entra em cena o Iluminismo, movimento que acreditava que a ciência, o progresso e a liberdade eram meios de trazer felicidade aos homens, contrapondo-se ao Estado Absolutista. Era a ideologia da burguesia em ascensão, que resultou na Revolução Francesa, na independência dos Estados Unidos e no cenário brasileiro, na Inconfidência Mineira.

            Com características reformistas, a Arcadismo pretende reformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais, uma vez que é a manifestação artística de um novo tempo e de uma nova ideologia. O exagero da expressão barroca havia se cansado, atinge um estágio estacionário e decadente, perdendo terreno para o subjetivismo da burguesia, predominando sobre a questão religiosa. A ciência é impulsionada, a máquina a vapor é aperfeiçoada e o trabalho artesanal começa a ser substituída por máquinas. O processo industrial atrai os camponeses, ocasionando o crescimento, o abandono do campo e o aumento das tensões sociais. Portugal sofreu influências da cultura italiana, espanhola e francesa, o que provocou a emancipação política da burguesia.


            Em Portugal, o Arcadismo estende-se desde 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, até 1825, com a publicação do poema “Camões”, de Almeida Garret, considerado o marco inicial do Romantismo português. Nesse momento, surge as primeiras arcádias, reuniões, grupos de poetas que buscavam a recuperação dos ideais clássicos, considerados fontes de equilíbrio e sabedoria. Daí o nome arcadismo, pois a Arcádia, morada dos pastores, representava o lugar ideal para a obtenção de equilíbrio e sabedoria. E por essa razão os poetas árcades se autodenominavam pastores e adotavam pseudônimos gregos e latinos. A fundação da Arcádia Lusitana, representou, entre outros aspectos, um movimento contra o Barroco. Um de seus símbolos foi o Inutilia Truncat”, uma frase latina que significa “cortar as inutilidades”, uma clara referência aos exageros do Barroco.

O Arcadismo é também chamado Neoclassicismo, porque é uma volta à antiguidade clássica  greco-romana, propondo-se a explorar a estética desta época e também a do Renascimento, no século XVI. O Arcadismo pode ser visto, sob o ponto de vista ideológico, como uma arte revolucionária. Contudo, do ponto de vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga à tradição clássica, tanto tempo cultivada pelas cortes aristocráticas.



É a partir da clara reação contra os exageros do Barroco que surgem os principais temas do Arcadismo:
• EQUILÍBRIO
• BUCOLISMO
• CONVENCIONALISMO
CARPE DIEM

Os árcades propunham o retorno aos modelos clássicos, porque neles encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio da razão, que seria a força controladora dos excessos. Buscavam, ao contrário do Barroco, uma linguagem simples, com períodos diretos e vocabulário fácil, sem o uso exagerado de figuras de linguagem, cortando tudo o que fosse inútil, desnecessário. Para eles, a literatura deveria ter um caráter mais didático, contribuindo para a formação da consciência. Os árcades exaltavam a virtude, a humildade, o comedimento. Seus heróis eram sempre pastores anônimos e felizes. Essa felicidade era basicamente conseguida através da segunda característica do Arcadismo.

Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio “fugere urbem” = “fugir da cidade, da civilização” os árcades acreditavam que somente no contato com a natureza, com o “locus amoenus”, “lugar ameno” o homem poderia alcançar o equilíbrio e a espiritualidade. Numa época em acontecia o crescimento das cidades, através do acelerado processo de industrialização, o Arcadismo pregava a volta à vida simples do campo. Daí a freqüência de temas pastoris e cenas campestres durante todo esse período. É importante observar que essa natureza correspondia a um cenário artificial, criado pelo poeta, que fala de riachos cristalinos, lindos campos, relva verde, mas que se encontra em
pleno centro urbano, é o chamado “fingimento poético no Arcadismo”, observado por vários estudiosos.

Outra característica é o convencionalismo, ou seja, as frases feitas, os clichês e os lugares comuns. Como: as ovelhas, os pastores e as pastoras, os montes, as ninfas e todos os demais elementos da natureza artificial criada pelo poeta árcade. Esse convencionalismo torna a poesia árcade, de uma maneira geral, marcada pela pouca expressividade e artificialismo. Além da monotonia provocada pela repetição, por vezes exaustiva, de temas bucólicos e pastoris.

Um último aspecto marcante dessa poesia é a filosofia do Carpe Diem “aproveitar o dia”, o “viver intensamente os momentos”. O tema da fugacidade da vida é muito comum em toda a literatura ocidental, o próprio Barroco o utilizou, mas visto por um ângulo negativo, próximo da idéia da morte. Agora o poeta árcade vai utilizá-lo como um convite amoroso, como insinuação erótica. O pastor, o poeta, consciente da brevidade da vida chama a pastora, a amada para que juntos aproveitem a vida.

Dentre os vários poetas árcades de Portugal, o que mais se destacou foi Manuel Maria Barbosa du Bocage, ou simplesmente Bocage. Bocage teve uma vida muito conturbada, após alguns anos de estudo dedica-se a vida boêmia e passa a freqüentar os bares portugueses e a conviver com prostitutas, marinheiros, vagabundos e com algumas poucas pessoas de nível social e literário mais elevado. Era conhecido com arruaceiro e aventureiro e, assim como Camões, foi soldado e durante alguns anos viveu e viajou pelas colônias portuguesas no Oriente. Há várias semelhanças entre sua vida e a de Camões, a tal ponto que em muitos momentos Bocage traça um paralelo entre elas, como nesse soneto:

“Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrilégio gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és ... Mas, oh tristeza! ...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.”

Bocage, assim como outros tantos poetas árcades adotou um pseudônimo pastoril, assinava suas poesias como o nome de Elmano Sadino. Elmano é um anagrama de Manuel, seu primeiro nome, ou seja, uma nova palavra formada pela troca das letras de uma primeira palavra. E Sadino é uma referência ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde o poeta nasceu.

Os estudiosos costumam dividir a obra de Bocage em dois momentos: um lírico e um satírico.

Sua poesia lírica mostra-se presa aos modelos do Arcadismo, povoada por pastores e imagens campesinas. Também se dedicou à poesia encomiástica, que como já vimos, era destinada à exaltação, à bajulação dos poderosos da época. Conta-se que Bocage, assim como outros poetas da época, viveu à sombra dos nobres, como faziam os bobos da corte durante a Idade Média.

Como poeta satírico, Bocage tinha por alvos principais os habitantes das colônias portuguesas, o absolutismo político e religioso, e muitas vezes os seus próprios colegas árcades.

Como poeta erótico, Bocage foi censurado em sua época e até hoje, muitos livros escolares não trazem exemplos dessa poesia erótica, marcada pela força poética e pela força em ser grosseira, vulgar, e referindo-se, muitas vezes, a atos obscenos.

Mas é sua poesia pré-romântica, contrária ao impessoalismo e ao convencionalismo, que o distingue dos demais árcades. Bocage valorizou o subjetivo, o sentimental através de uma freqüente luta entre a razão e a emoção, luta essa, que muitas se reflete numa visão pessimista e fatalista da existência. Em vários poemas os riachos e os pastores são substituídos por imagens fúnebres e sentimentos negativos. Como nos mostra o famoso soneto “Sobre estas duras, cavernosas fragas”.

Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n’ alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas.
Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.
Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objetos de horror co’a idéia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.
Razão; de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.

Principais autores e obras de poetas árcades:
Manuel Maria Barbosa Du Bocage: Obras principais - Idílios Marítimos (1791); Obras Poéticas (1812-1813) e Verdadeiras Inéditas Obras Poéticas (1814).
Antonio Diniz Cruz e Silva: Obras principais - Odes Pindáricas, 1801; O Hissope, 1802;
Correia Garção: Obras principais - Assembléia ou Partido; Obras Poéticas.
Francisco José Feire, o Cândido Lusitano: Obras principais – Vieira defendido, Lisboa, 1746; O Secretário Portuguez Cómmodos à Instrucção da Mocidade Confirmado com Selectos Exemplos de Bons Autores, Lisboa, 1745;
Marquesa de Alorna: Obras principais – Alcippe, Lisboa, 1844;


Fontes:


Enciclopédia Mundial de Pesquisa, Editora Lisa (Autor, edição e ano de publicação não encontrados);
Enciclopédia Programa de Assistência ao Estudante, Editora Iracema, 1ª edição, 2002;

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Como baixar filmes sem fazer cadastro via SMS

BAIXE FILMES COM LINKS INVERTIDOS (clique no link abaixo):
http://ponderador.blogspot.com/2010/06/como-baixar-filmes-com-links-invertidos.html

ATENÇÃO: Alguns leitores enviam comentários afirmando que não estão conseguindo baixar filmes mesmo seguindo a dica. O Problema é o seguinte: Nem todos os downloads estão disponíveis e outros dão erros, mesmo fazendo o processo da dica corretamente. Por isso eu disse no texto "se o arquivo estiver realmente disponível". A solução é tentar outros suportes de armazenamento: megaupload, easyshare, rapidshare, file upload, file mirror, entre outros.

Você é daqueles que curte baixar filmes e músicas pela internet? É daqueles que encontra uma vasta variedade de músicas para todos os gostos e estilos, filmes diversos, do animado ao adulto e, e se pudesse baixaria todos? Certo, confesso que também gosto, só falta turbinar meu PC, porque o seu HD ainda é fraco... Mas diz aí, você consegue baixar músicas e filmes numa boa, de primeira? Ou se depara com uma mensagem que pede para você cadastrar o seu celular via SMS?

Quando comecei a baixar alguns filmes, essa mensagem me deixava irritado. Pow, quem disse que quero ficar recebendo torpedos sem noção e pior, gastar com cada mensagem recebida? Quero é baixar filmes, rs. Daí procurei uma forma de burlar o pedido de castrado via torpedo e descobri uma que não tem erro. É o que vou te ensinar agora.
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Escolha o filme que você quer baixar e o suporte de armazenamento que você acha melhor ou tiver disponível. Eu prefiro o MegaUpload. Alguns sites de download de filmes e músicas abrem uma página direta para baixar o arquivo, já outros te direciona para uma página de cadastro do celular via SMS. Se fizer o cadastro, na verdade estará realizando uma assinatura e com certeza é paga!

Quando isso acontecer, faça o seguinte: na barra de endereço, aparece dois endereços integrados (dois http’s). Deixa só o segundo e tecla Enter. Pronto, se o arquivo estiver realmente disponível, abrirá uma página para fazer o download.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Feito Fera Ferida

FEITO FERA FERIDA


Era Agosto.

Cheio de gosto te conheci.

E à gosto nos tocamos, nos sentimos, nos amamos...

Agosto passou

E o desgosto chegou.

E mais que trinta dias, parece que não tem fim.

Não tem fim a dor.

Meu peito está aberto, machucado, mortalmente ferido.

Coração exposto, dilacerado,

À mostra de uma realidade destituída de qualquer sentimento seu.

Sem compaixão, o devaneio sagaz me amofina,

Veleja em minhas veias,

Percorre todo o meu corpo,

Quer o meu coração parar.

E eu quero viver!

Mas o peito está aberto, vulnerável...

Dos meus olhos vertem vertiginosamente,

Lágrimas de sangue

Já não sei mais o que vejo

E confuso, meus olhos mentem.

Meu hálito resseca meus lábios

Que sangram em busca de vida

Meu corpo padece, perece,

Os poros da epiderme se dilatam.

Sinto a pele rasgar por onde um dia você tocou

E prometeu aquecê-la com os seus abraços

As suas juras falsas e dissimuladas

Que jamais me faria sofrer

Agora cai por terra.

E junto a elas caio eu,

Ferido brutalmente,

Golpeado, lanceado,

Feito fera ferida

Que outrora, em outra vida,

Jamais pudera imaginar

Que um dia te conhecer

Fosse sinônimo de morrer.

Autor: Leo Cruz

sábado, 7 de novembro de 2009

Obrigado, Professor!

As experiências marcantes em nossa vida, sejam elas agradáveis ou não, sempre terão um lugar privilegiado em nossa memória, tendo em vista que são resultados de momentos que, de algum modo, influenciam o aspecto psicológico e social em que somos inseridos.

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Quero relatar uma experiência que aconteceu comigo no meu primeiro ano como professor primário, numa turma de primeira série, em 1996. Foi a primeira de tantas experiências que torna a profissão de professor tão gratificante.

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Alfabetizar crianças da zona rural é um grande desafio. A maioria delas não passa pela educação infantil e ingressa na primeira série, às vezes, sem nunca ter pegado no lápis. E foi assim com Reginaldo, um menino de sete anos, que teve o seu primeiro contato com a escola com o objetivo de aprender e ao mesmo tempo, me colocou na responsabilidade de ensiná-lo.

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Reginaldo era muito curioso, gostava de aprender e sentia-se realizado quando conseguia superar suas dificuldades. Todavia, ficou prejudicado quando adoeceu por duas vezes, acometido pela malária, doença tão comum naquela região. Embora o menino estivesse sempre disposto a aprender, o excesso de faltas fez com que perdesse parte do processo de aprendizagem. Sua mãe era presente, acompanhava a vida escolar do filho e reconhecia que este poderia ser reprovado por problemas que não competia a ele resolver.

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Como previsto, Reginaldo não alcançou média suficiente e teve que fazer a recuperação final. Eu percebia que ele tinha capacidade de passar no exame, era inteligente e sempre disposto a realizar as atividades propostas. No entanto, tinha certa dificuldade na produção escrita, pois não pode acompanhar todo o processo de alfabetização. Marcado o dia para o exame final, dona Ana, mãe do aluno, pediu que o mesmo fizesse o exame em casa, pelo que aceitei prontamente.

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Só depois percebi a diferença entre Reginaldo fazer o exame em casa ou na escola. O garoto não se sentiu à vontade em casa, sentia-se na responsabilidade de passar, familiares esperando o resultado, e demonstrava certo desconforto com essa situação. Mesmo estando sozinho ao fazer o exame, não conseguiu se concentrar e não alcançou a nota que precisava para sua aprovação.

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Ao comunicar o resultado para a mãe, percebi sua tristeza. Mais triste ainda ficou Reginaldo, que lutou contra a doença e esforçou-se ao máximo durante todo o ano. E fiquei pensando. Não queria sair dali com aquele resultado. Sabia que Reginaldo tinha condições de passar. E o menino ali, ainda sentando e cabisbaixo, talvez tentando aceitar a sua condição. E pela primeira vez, tomei uma decisão que me faz questionar o que é realmente avaliar. Chamei dona Ana e expliquei que o fato dele fazer o exame em casa foi determinante para o resultado negativo. “Por isso, vou dar a nota que o seu filho precisa. Reginaldo está aprovado”. E fui embora com a certeza de que tinha feito a coisa certa.

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Nesse mesmo ano, consegui transferência para outra escola. Fui convidado por dona Ana para passar um final de semana com sua família, antes de ir embora. Foram receptivos e como numa despedida, fizeram um grande almoço, como por agradecimento pela prestação de meus serviços. À noite, ao dormir, Reginaldo bate a porta e me entrega um bilhete, timidamente. Abro o bilhete e, escrito à lápis, tinha a mensagem “Professor, você é o melhor professor do mundo, por favor, não vá embora.” E minha alegria ao ler o recado se misturou a satisfação de tê-lo alfabetizado e permitido sua aprovação. Era um recado que, traduzindo, significava dizer: “Professor, obrigado por acreditar em mim!”. Mesmo com um pedido tão tocante, minha saída era certa. Posteriormente, fiz uma visita aquela localidade. Perguntei por Reginaldo a sua professora e grande foi a satisfação ao ouvir: “Reginaldo é o melhor aluno da segunda série!”.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Resumo do canto VII - Os Lusíadas

Se você estava procurando o resumo do canto VII, da obra Os Lusíadas, de Luis de Camões, agora não está mais! Confira este e compare.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo retratar os acontecimentos históricos de Portugal mediante a obra “Os Lusíadas” de Luis de Camões, considerada a epopeia por excelência. Esta obra, que é composta por dez cantos, tem como ação central a descoberta do caminho marítimo a Índia por Vasco da Gama, a volta da qual se vão descrevendo outros episódios da história de Portugal, glorificando o povo português.

Através do resumo do canto VII. , iremos perceber que a narrativa inicia-se com o prenúncio da chegada dos portugueses à Calicute. E desse modo, será apresentado todo o contexto inserido por Camões nesta narrativa interessante e envolvente, desde a chegada à Índia até o apelo às musas para prosseguir seu canto.

***
O canto VII começa com a chegada dos portugueses à Calicute, na Índia: “JÁ se viam chegados junto à terra, que desejada já de tantos fora”. Das estrofres 1 a 14, o poeta descreve a distinção entre os portugueses em relação à nação européia, por considerar esta indiferente na luta contra os infiéis. Segundo Camões, os reis e os nobres das outras nações européias em guerras estranhas, sem honras e injustas, como mostra a estrofe 2:
A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no mundo,
Não digo inda no mundo, mas no amigo
Curral de Quem governa o Céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça ou pouca obediência
Da Madre que nos Céus está em essência;

Camões continua sua crítica e inclue os alemães, franceses e ingleses que renegam a verdadeira fé e enfraquece o poder cristão. Estrofes 4 a 7:
Vede'los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apacenta;
Do sucessor de Pedro rebelado,
Novo pastor e nova seita inventa;
Vede'lo em feias guerras ocupado,
Que inda co cego error se não contenta,
Não contra o superbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.
Vede'lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima Cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia
(Quem viu honra tão longe da verdade?),
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Pera os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.
Guarda-lhe, por entanto, um falso Rei
A cidade Hierosólima terreste,
Enquanto ele não guarda a santa Lei
Da cidade Hierosólima celeste.
Pois de ti, Galo indino, que direi?
Que o nome «Cristianíssimo» quiseste,
Não pera defendê-lo nem guardá-lo,
Mas pera ser contra ele e derribá-lo!
Achas que tens direito em senhorios
De Cristãos, sendo o teu tão largo e tanto,
E não contra o Cinífio e Nilo rios,
Inimigos do antigo nome santo?
Ali se hão-de provar da espada os fios
Em quem quer reprovar da Igreja o canto.
De Carlos, de Luís, o nome e a terra
Herdaste, e as causas não da justa guerra?

Critica também os italianos pela sua corrupção para o próprio ganho pessoal. Estrofe 8:
Pois que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos do seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem, de si inimigo.
Contigo, Itália, falo, já sumersa
Em vícios mil, e de ti mesma adversa.

Camões exalta a nação portuguesa, que com intenções nobres, lutam contras os mouros e turcos e procura conquistar o povo imundo, dilatando a religião cristã. Na estrofe 9, o poeta faz referência a uma lenda, em que Cadmo semeou dentes de dragão e deles nasceram soldados que se mataram uns aos outros. Nesse trecho, Cadmo mandou alguns companheiros à Fonte de Ares, guardada por um dragão, que os devorou. Cadmo matou o dragão. Atena apareceu-lhe e o aconselhou a semear dos dentes do animal, o que ele fez e, imediatamente da terra brotaram homens armados. Estes homens eram ameaçadores e Cadmo imaginou lançar pedras para o meio deles. Não vendo quem os feria, acusaram-se reciprocamente e massacraram-se. Ficaram cinco, que ajudaram Cadmo a fundar Tebas. Camões faz referência também à Divina sepultura possuída de cães, expressão figurada dado que os dentes nasceram da terra. Aqui, Jerusalém ficou possuída pelo império Otomano (de religião islâmica), em 1517, que passou também a tomar posse da Divina sepultura (Túmulo de Cristo).
Ó míseros Cristãos, pola ventura
Sois os dentes, de Cadmo desparzidos,
Que uns aos outros se dão à morte dura,
Sendo todos de um ventre produzidos?
Não vedes a divina Sepultura
Possuída de Cães, que, sempre unidos,
Vos vêm tomar a vossa antiga terra,
Fazendo-se famosos pela guerra?

Na estrofe 12, Camões faz nova crítica contra a Europa. Segundo ele, a civilização era maculada pela presença dos turcos, que se difundia cada vez mais. Na estrofe 13, continua a dirigir-se aos divididos povos europeus e refere-se aos feitos desumanos do povo ignorante, que obriga gregos, trácios, arménios e georgianos a educarem seus filhos nos preceitos do alcorão.

Aquelas invenções, feras e novas,
De instrumentos mortais da artelharia
Já devem de fazer as duras provas
Nos muros de Bizâncio e de Turquia.
Fazei que torne lá às silvestres covas
Dos Cáspios montes e da Cítia fria
A Turca geração, que multiplica
Na polícia da vossa Europa rica.
Gregos, Traces, Arménios, Georgianos,
Bradando vos estão que o povo bruto
Lhe obriga os caros filhos aos profanos
Preceptos do Alcorão (duro tributo!).
Em castigar os feitos inumanos
Vos gloriai de peito forte e astuto,
E não queirais louvores arrogantes
De serdes contra os vossos mui possantes.

Das estrofes 15 a 22, Camões narra a entrada à Calicute e descreve a Índia. Logo nas estrofres 15 e 16, ele lembra a fúria dos ventos repugnantes enfrentada pelos navegantes, que recorreram à Vênus que, com sua brandura, enfraqueceu a fúria dos ventos. Ao chegar à nova terra, que data o período de maio de 1498, os pescadores, em leves embarcações, mostram aos portugueses o caminho para Calecute, onde vive o rei da Índia. Na estrofe 17, o poeta descreve a Índia, traçando seus limites, mas volta a criticar a religião do povo local.
E vejamos, entanto, que acontece
Àqueles tão famosos navegantes,
Despois que a branda Vénus enfraquece
O furor vão dos ventos repugnantes;
Despois que a larga terra lhe aparece,
Fim de suas perfias tão constantes,
Onde vem samear de Cristo a lei
E dar novo costume e novo Rei.
Tanto que à nova terra se chegaram,
Leves embarcações de pescadores
Acharam, que o caminho lhe mostraram
De Calecu, onde eram moradores.
Pera lá logo as proas se inclicaram,
Porque esta era a cidade, das milhores
Do Malabar, milhor, onde vivia
O Rei que a terra toda possuía.
Além do Indo jaz e aquém do Gange
Um terreno mui grande e assaz famoso
Que pela parte Austral o mar abrange
E pera o Norte o Emódio cavernoso.
Jugo de Reis diversos o constrange
A várias leis: alguns o vicioso
Mahoma, alguns os Ídolos adoram,
Alguns os animais que entre eles moram.

Seguindo os acontecimentos, Camões continua a descrever a geografia de Índia e apresenta os primeiros contatos com o povo desconhecido (Calecute) nas estrofes 23 a 27. Vasco da Gama avisa o soberano indiano (rei Samorim) da sua chegada e manda a terra o degredado João Martins. No meio deste povo, com quem não consegue falar, João Martins encontra o mouro Monçaide, hispânico e falante de castelhano, que o acolhe e lhe serve de tradutor. O mouro se admira do espírito aventureiros dos portugueses, ao conhecer suas aventuras e por vê-los tão longe da pátria. Monçaide o acompanha até a frota e explica aos portugueses um pouco de geografia, história, política, religião e costumes da Índia.
Chegada a frota ao rico senhorio,
Um Português, mandado, logo parte
A fazer sabedor o Rei gentio
Da vinda sua a tão remota parte.
Entrando o mensageiro pelo rio
Que ali nas ondas entra, a não vista arte,
A cor, o gesto estranho, o trajo novo,
Fez concorrer a vê-lo todo o povo.
Entre a gente que a vê-lo concorria,
Se chega um Mahometa, que nascido
Fora na região da Berberia,
Lá onde fora Anteu obedecido.
(Ou, pela vezinhança, já teria
O Reino Lusitano conhecido,
Ou foi já assinalado de seu ferro;
Fortuna o trouxe a tão longo desterro).
Em vendo o mensageiro, com jocundo
Rosto, como quem sabe a língua Hispana,
Lhe disse: - « Quem te trouxe a estoutro mundo,
Tão longe da tua pátria Lusitana?»
- «Abrindo (lhe responde) o mar profundo
Por onde nunca veio gente humana;
Vimos buscar do Indo a grão corrente,
Por onde a Lei divina se acrecente.»
Espantado ficou da grão viagem
O Mouro, que Monçaide se chamava,
Ouvindo as opressões que na passagem
Do mar o Lusitano lhe contava.
Mas vendo, enfim, que a força da mensagem
Só pera o Rei da terra relevava,
Lhe diz que estava fora da cidade,
Mas de caminho pouca quantidade;
E que, entanto que a nova lhe chegasse
De sua estranha vinda, se queria,
Na sua pobre casa repousasse
E do manjar da terra comeria;
E despois que se um pouco recreasse,
Co ele pera a armada tornaria,
Que alegria não pode ser tamanha
Que achar gente vizinha em terra estranha.

Das estrofes 28 a 41, Monçaide e João Martins regressam à frota de Vasco da Gama e fornece informações importantes acerca da Índia. Nas estrofes 37 a 41, são descritos os costumes religiosos do povo local, cuja lei de “fábulas compostas se imagina”.
«A Lei da gente toda, rica e pobre,
De fábulas composta se imagina.
Andam nus e somente um pano cobre
As partes que a cobrir Natura ensina.
Dous modos há de gente, porque a nobre
Naires chamados são, e a menos dina
Poleás tem por nome, a quem obriga
A lei não mesturar a casta antiga;
«Porque os que usaram sempre um mesmo ofício,
De outro não podem receber consorte;
Nem os filhos terão outro exercício
Senão o de seus passados, até morte.
Pera os Naires é, certo, grande vício
Destes serem tocados; de tal sorte
Que, quando algum se toca porventura,
Com cerimónias mil se alimpa e apura.
«Desta sorte o Judaico povo antigo
Não tocava na gente de Samária.
Mais estranhezas inda das que digo
Nesta terra vereis de usança vária.
Os Naires sós são dados ao perigo
Das armas; sós defendem da contrária
Banda o seu Rei, trazendo sempre usada
Na esquerda a adarga e na direita a espada.
«Brâmenes são os seus religiosos,
Nome antigo e de grande preminência;
Observam os preceitos tão famosos
Dum que primeiro pôs nome à ciência;
Não matam cousa viva e, temerosos,
Das carnes têm grandíssima abstinência.
Somente no Venéreo ajuntamento
Têm mais licença e menos regimento.
«Gerais são as mulheres, mas somente
Pera os da geração de seus maridos
(Ditosa condição, ditosa gente,
Que não são de ciúmes ofendidos!)
Estes e outros costumes vàriamente
São pelos Malabares admitidos.
A terra é grossa em trato, em tudo aquilo
Que as ondas podem dar, da China ao Nilo.»

Algum tempo depois, Vasco da Gama recebe permissão para desembarcar com os portugueses e é recebido pelo Catual (governador ou ministro) de Calicute, que o leva a Samorim, fato narrado por Camões a partir da estrofe 42. Na estrofe 45, Camões fala da dificuldade dos portugueses em se comunicar com o povo local.
Destarte o Malabar, destarte o Luso,
Caminham lá pera onde o Rei o espera;
Os outros Portugueses vão ao uso
Que infantaria segue, esquadra fera.
O povo que concorre vai confuso
De ver a gente estranha, e bem quisera
Perguntar; mas, no tempo já passado,
Na Torre de Babel lhe foi vedado.

Após desembarcar, Cabul e Vasco da Gama, com a ajuda da interpretação de Monçaide, pela cidade iam caminhando. Cabul o levou a um templo cristão, que não passava de um local para adoração de ídolos, como mostra as estrofes 46 a 49. Segundo fontes de pesquisa, Vasco da Gama estava à procura de cristãos na nova terra e chega a confundir um templo indiano com uma igreja de Cristo.
O Gama e o Catual iam falando
Nas cousas que lhe o tempo oferecia;
Monçaide, entr'eles, vai interpretando
As palavras que de ambos entendia.
Assi pela cidade caminhando,
Onde üa rica fábrica se erguia
De um sumptuoso templo já chegavam,
Pelas portas do qual juntos entravam.
Ali estão das Deidades as figuras,
Esculpidas em pau e em pedra fria,
Vários de gestos, vários de pinturas,
A segundo o Demónio lhe fingia;
Vêm-se as abomináveis esculturas,
Qual a Quimera em membros se varia;
Os cristãos olhos, a ver Deus usados
Em forma humana, estão maravilhados.

Um, na cabeça cornos esculpidos,
Qual Júpiter Amon em Líbia estava;
Outro, num corpo rostos tinha unidos,
Bem como o antigo Jano se pintava;
Outro, com muitos braços divididos,
A Briareu parece que imitava;
Outro, fronte canina tem de fora,
Qual Anúbis Menfítico se adora.
Aqui feita do bárbaro Gentio
A supersticiosa adoração,
Direitos vão, sem outro algum desvio,
Pera onde estava o Rei do povo vão.
Engrossando-se vai da gente o fio
Cos que vêm ver o estranho Capitão.
Estão pelos telhados e janelas
Velhos e moços, donas e donzelas.

Esses fatos se discorrem enquanto Catual e os portugueses caminham até o rei Samorim. Das estrofes 57 a 65, os versos descrevem a Visita de Vasco da Gama a Samorim e o acolhimento dos portugueses. Então, Vasco da Gama oferece à Samorim a amizade dos portugueses em nome do rei de Portugal.

Assi falando, entravam já na sala
Onde aquele potente Emperador
Nüa camilha jaz, que não se iguala
De outra algüa no preço e no lavor.
No recostado gesto se assinala
Um venerando e próspero senhor;
Um pano de ouro cinge, e na cabeça
De preciosas gemas se adereça.

Bem junto dele, um velho reverente,
Cos giolhos no chão, de quando em quando
Lhe dava a verde folha da erva ardente,
Que a seu costume estava ruminando.
Um Brâmene, pessoa preminente,
Pera o Gama vem com passo brando,
Pera que ao grande Príncipe o apresente,
Que diante lhe acena que se assente.

Sentado o Gama junto ao rico leito,
Os seus mais afastados, pronto em vista
Estava o Samori no trajo e jeito
Da gente, nunca de antes dele vista.
Lançando a grave voz do sábio peito,
Que grande autoridade logo aquista
Na opinião do Rei e do povo todo,
O Capitão lhe fala deste modo:

- «Um grande Rei, de lá das partes onde
O Céu volúbil, com perpétua roda,
Da terra a luz solar co a Terra esconde,
Tingindo, a que deixou, de escura noda,
Ouvindo do rumor que lá responde
O eco, como em ti da Índia toda
O principado está e a majestade,
Vínculo quer contigo de amizade.
«E por longos rodeios a ti manda
Por te fazer saber que tudo aquilo
Que sobre o mar, que sobre as terras anda,
De riquezas, de lá do Tejo ao Nilo,
E desd'a fria plaga de Gelanda
Até bem donde o Sol não muda o estilo
Nos dias, sobre a gente de Etiópia,
Tudo tem no seu Reino em grande cópia.
«E se queres, com pactos e lianças
De paz e de amizade, sacra e nua,
Comércio consentir das abondanças
Das fazendas da terra sua e tua,
Por que creçam as rendas e abastanças
(Por quem a gente mais trabalha e sua)
De vossos Reinos, será certamente
De ti proveito, e dele glória ingente.

«E sendo assi que o nó desta amizade
Entre vos firmemente permaneça
Estará pronto a toda adversidade
Que por guerra a teu Reino se ofereça,
Com gente, armas e naus, de qualidade
Que por irmão te tenha e te conheça;
E da vontade em ti sobr'isto posta
Me dês a mi certíssima resposta.»

Tal embaxada dava o Capitão,
A quem o Rei gentio respondia
Que, em ver embaxadores de nação
Tão remota, grão glória recebia;
Mas neste caso a última tenção
Com os de seu conselho tomaria,
Informando-se certo de quem era
O Rei e a gente e terra que dissera;
E que, entanto, podia do trabalho
Entre vós firmemente permaneça,
A quem o Rei gentio respondia
Passado ir repousar; e em tempo breve
Daria a seu despacho um justo talho,
Com que a seu Rei reposta alegre leve.
Já nisto punha a noite o usado atalho
Ás humanas canseiras, por que ceve
De doce sono os membros trabalhados,
Os olhos ocupando, ao ócio dados.

A partir da estrofe 66, enquanto os portugueses são acolhidos pelo rei, Samorim ordena a Catual que colha mais informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e, em seguida, visita a esquadra portuguesa, onde é recebido por Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama. Catual indaga a Paulo da Gama do significado das figuras desenhadas nas bandeiras lusas. O irmão do comandante assume a narrativa e conta os feitos dos heróis da pátria (Viriato, D. Afonso Henriques, Egas Moniz, D. Nuno Álvares e outros). Nas bandeiras, os símbolos representavam os episódios históricos vivenciados por portugal ao longo do tempo.
Agasalhados foram juntamente
O Gama e Postugueses no apousento
Do nobre Regedor da Indica gente,
Com festas e geral contentamento.
O Catual, no cargo diligente
De seu Rei, tinha já por regimento
Saber da gente estranha donde vinha,
Que costumes, que lei, que terra tinha
Tanto que os ígneos carros do fermoso
Mancebo Délio viu, que a luz renova
Manda chamar Monçaide, desejoso
De poder-se informar da gente nova.
Já lhe pergunta, pronto e curioso,
Se tem notícia inteira e certa prova
Dos estranhos, quem são; que ouvido tinha
Que é gente de sua pátria mui vizinha;
(...)
Já com desejos o Idolátra ardia
De ver isto que o Mouro lhe contava;
Manda esquipar batéis, que ir ver queria
Os lenhos em que o Gama navegava.
Ambos partem da praia, a quem seguia
A Naira geração, que o mar coalhava;
À capitaina sobem, forte e bela,
Onde Paulo os recebe a bordo dela.
Purpúreos são os toldos, e as bandeiras
Do rico fio são que o bicho gera;
Nelas estão pintadas as guerreiras
Obras que o forte braço já fizera;
Batalhas têm campais aventureiras,
Desafios cruéis, pintura fera,
Que, tanto que ao Gentio se apresenta,
A tento nela os olhos apacenta.

Pelo que vê pergunta; mas o Gama
Lhe pedia primeiro que se assente
E que aquele deleite que tanto ama
A seita Epicureia experimente.
Dos espumantes vasos se derrama
O licor que Noé mostrara à gente;
Mas comer o Gentio não pretende,
Que a seita que seguia lho defende.
A trombeta, que, em paz, no pensamento
Imagem faz de guerra, rompe os ares;
Co fogo o diabólico instrumento
se faz ouvir no fundo lá dos mares.
Tudo o Gentio nota; mas o intento
Mostrava sempre ter nos singulares
Feitos dos homens que, em retrato breve
A muda poesia ali descreve.
Alça-se em pé, co ele o Gama junto,
Coelho de outra parte e o Mauritano;
Os olhos põem no bélico transunto
De um velho branco, aspeito venerando,
Cujo nome não pode ser defunto
Enquanto houver no mundo trato humano:
No trajo a Grega usança está perfeita;
Um ramo, por insígnia, na direita.

Da estrofe 78 até o final do canto, Camões faz nova inovação às Ninfas do Tejo e do Mondego, e queixa-se da sua infelicidade e pede inspiração para prosseguir o canto. O poeta conta um pouco da sua biografia e lança-se num lamento indignado pelo modo como sua pátria o tem tratado, a quem só pretende cantar a glória portuguesa. Na estrofe 79, Camões faz referência à tragédia Éolo. Nessa mitologia, Cânace foi forçada pelo seu pai a cometer suicídio como punição pelo fato de ter mantido uma relação incestuosa com o seu irmão Macareu. Em sua lamentação, o poeta faz referência ao seu naufrágio no mar da China pelos fins de 1558, relacionando-o com a história de Ezequias, rei de Judá, que ao saber de sua morte pelo profeta Isaías, roga à Deus mais quinze anos de vida. Camões, indignado, chega Camões chega a enumerar as pessoas que não merecem a glória que o canto do poeta dá: os lisonjeiros; os que atuam movidos por um interesse pessoal em prejuízo de um bem comum e do seu rei; os que atuam movidos pela ambição (os que sobem ao poder por influências, compram de cargos de importância), permitindo dar vida aos seus vícios; e os que exercem despoticamente o poder.
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego,
Eu, que cometo, insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Os olhos põe no bélico trasunto
Que o meu fraco batel se alague cedo.
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vem e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Cánace, que à morte se condena,
Nüa mão sempre a espada e noutra a pena;
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo mais que nunca derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-se
Que pera o Rei Judaico acrecentar-se.
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem o faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!
Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engradeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.
Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!
Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.
Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Tão bem de suas obras merecida.
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.


FONTES DE CONSULTA:
www.dominiopublico.com.br (download do livro Os Lusiadas)
www.wikipedia.com
www.scribd.com
www.docsgoogle.com
www.oslusiadas.com.br
www.culturaatura.com.