quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que é Anarquismo?

ANARQUISMO - INTRODUÇÃO HISTÓRICA

Há uma grande confusão em torno da palavra anarquismo. Muitas vezes a anarquia é considerada como um equivalente do caos e o anarquista é tido, na melhor das hipóteses, como um niilista, um homem que abandonou todos os princípios e, às vezes, até confundido com um terrorista inconseqüente. Muitos anarquistas foram homens com princípios desenvolvidos; uma restrita minoria realizou atos de violência que, em termos de destruição, nunca chegou a competir com os líderes militares do passado ou com os cientistas nucleares de hoje. Em outras palavras, neste estudo estarão presentes anarquistas como foram e são, e não como aparentam ser nas fantasias de cartunistas, jornalistas e políticos, cuja forma predileta de ofender um oponente é acusá-lo de promover a anarquia.

Estamos interessados em definir um grupo de doutrinas e atitudes cuja característica comum é a crença de que o Estado é nocivo e desnecessário. A origem da palavra anarquismo envolve uma dupla raiz grega: archon, que significa governante, e o prefixo an, que indica sem. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo. Por conseqüência, anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é a fonte da maior parte de nossos problemas sociais, e que existem formas alternativas viáveis de organização voluntária. E, por definição, o anarquista é o indivíduo que se propõe a criar uma sociedade sem Estado.

O conceito de sociedade sem Estado é essencial para a compreensão da atitude anarquista. Rejeitando o Estado, o anarquista autêntico não está rejeitando a idéia da existência da sociedade; ao contrário, sua visão da sociedade como uma entidade viva se intensifica quando ele considera a abolição do Estado. Na sua opinião, a estrutura piramidal imposta pelo Estado, com um poder que vem de cima para baixo, só poderá ser substituída se a sociedade tornar-se uma rede de relações voluntárias. A diferença entre uma sociedade estatal e uma sociedade anárquica é a mesma que existe entre uma estrutura e um organismo: enquanto uma é construída artificialmente, o outro cresce de acordo com leis naturais. Metaforicamente, se pode comparar a pirâmide do Estado com a esfera da sociedade que é mantida por um equilíbrio de forças. Duas formas de equilíbrio têm muita importância na filosofia dos anarquistas. Uma delas é o equilíbrio entre destruição e construção, que domina suas táticas. A outra é o equilíbrio entre liberdade e ordem, que faz parte de sua visão da sociedade ideal. Para o anarquista a ordem não é algo imposto de cima para baixo. É uma ordem natural que se expressa pela autodisciplina e pela cooperação voluntária.

As raízes do pensamento anarquista são antigas. Doutrinas libertárias que sustentavam que, como ser normal, o homem pode viver melhor sem ser governado já existiam entre os filósofos da Grécia e da China Antiga, e entre seitas cristãs heréticas da Idade Média. Filosofias cuidadosamente elaboradas e que eram totalmente anarquistas começaram a aparecer já durante o Renascimento e a Reforma, entre os séculos XV e XVII, e principalmente no século XVIII, à medida que se aproximava a época das revoluções Francesa e Americana, que deram início à Idade Moderna.

Como movimento ativista, buscando mudar a sociedade por métodos coletivos, o anarquismo pertence unicamente aos séculos XIX e XX. Houve épocas em que milhares de operários e camponeses europeus e latino-americanos seguiram as bandeiras negras ou rubro-negras dos anarquistas, revoltando- se sob a sua liderança e estabelecendo modelos transitórios de um mundo livre, como na Espanha e na Ucrânia durante períodos da revolução. Houve também grandes escritores, como Shelley e Tolstoi, que expressaram idéias essenciais do anarquismo em seus poemas, novelas e artigos. O sucesso do anarquismo, porém, variou muito porque ele é um movimento e não um partido. É um movimento que tem mostrado grande poder de renovação. No início da década de 60, parecia estar esquecido, mas hoje parece ser outra vez, como em 1870, 1890 e 1930, um fenômeno relevante.

George Woodcoch, Os grandes escritos anarquistas, Porto Alegre, L&PM, 1981, p. 13-14.

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